Hoje, alguém me "obrigou" a ir ao auditório da Biblioteca Municipal Orlando Ribeiro para um recital de poesia. E eu que pensava que ia ser uma grande seca acabou por ser um final de tarde bem passado. No palco, encontravam-se duas pessoas e os poemas eram declamados com uma viola a acompanhar. Formavam uma boa dupla. O recital era composto por vários poemas de vários autores que teriam sido escolhidos previamente pelos funcionários da Biblioteca.
Como hoje é o dia Mundial da Poesia, vou aqui destacar um poema do Al Berto que é muito bonito.
ofício de amar
já não necessito de ti
tenho a companhia nocturna dos animais e a peste
tenho o grão doente das cidades erguidas no princípio doutras galáxias, e
o remorso
um dia pressenti a música estelar das pedras, abandonei-me ao silêncio
é lentíssimo este amor progredindo com o bater do coração
não, não preciso mais de mim
possuo a doença dos espaços incomensuráveis
e os secretos poços dos nómadas
ascendo ao conhecimento pleno do meu deserto
deixei de estar disponível, perdoa-me
se cultivo regularmente a saudade de meu próprio corpo
Al Berto
"Medo"
Assírio & Alvim, 1997
1 comentário:
UM POEMA
Não tenhas medo, ouve:
É um poema
Um misto de oração e de feitiço...
Sem qualquer compromisso,
Ouve-o atentamente,
De coração lavado.
Poderás decorá-lo
E rezá-lo
Ao deitar
Ao levantar,
Ou nas restantes horas de tristeza.
Na segura certeza
De que mal não te faz.
E pode acontecer que te dê paz...
Miguel Torga, Diário XIII
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